segunda-feira, 13 de maio de 2013












                                                                    MÃOS
Mãos em movimentos ágeis de agulhas trançando lãs e linhas, tecendo o enxoval, vestindo o sonho do que virá.

Mãos que amparam aquele que vem à luz: acolhendo, cuidando.

Mãos que se encontram pela primeira vez selando o amor de toda vida – a mão minúscula do bebê segurando forte a mão da mãe e do pai.  

Mãozinhas macias que descobrem o mundo: agarram, puxam,sacodem, prendem, soltam, deslizam, experimentam e aprendem.

Mãos sem medo que fazem de troncos, escadas e de galhos, trapézios; que dobram um papel qualquer em aviõezinhos e navios e com eles seguem em grandes aventuras. Que se lambuzam em gostosuras. Que desenham a imaginação e a colorem em cores vivas.

Mãos que escrevem de garatujas a odisséias. Que contam, que inventam, que juntam palavras que esclarecem, que fazem rir ou chorar. 

Mãos que constroem absolutamente tudo que a humanidade ousou pensar: mãos que curam, mãos que levam e trazem, mãos que alimentam, que fazem o novo e consertam o quebrado, mãos que limpam, que renovam, que transformam.

Mãos que divertem, que deslumbram, que encantam. Que plantam e colhem, que cortam e recortam.

Mãos que se tocam, que se procuram, mãos que abraçam, que consolam, que partilham, que abençoam  quando a alma sente alegria, ou medo, ou dor, ou solidão.

Mãos que aplaudem ruidosas.

Mãos que se postam em reverência, em silêncios, em orações.

Mãos que envelhecem em sabedoria, que se recolhem sobre o ventre guardando sob si a história do mundo. 

Mãos: ferramentas divinas dadas aos humanos para a construção do AMOR. 

Ana Lara _ maio 2013

sábado, 25 de dezembro de 2010

O caminho da paz interior
Sheakespeare escreveu que “nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos”.  E dos sonhos, das utopias que movem a humanidade, haverá desejo maior que a Paz? Todas as religiões e povos a buscam e cada coração humano almeja em seu âmago repousar.
De pouco precisaríamos se houvesse Paz na Terra –um sonho onde
nos olharíamos com um sorriso na face, as janelas das casas estariam sempre abertas e as portas apenas encostadas. Cuidaríamos dos filhos alheios e os nossos – onde estivessem – teriam um lar. Teríamos liberdade de cantar pelas ruas porque a alegria contagiaria até os tristonhos e carrancudos.
 Haveria respeito. As famílias existiriam pelas pessoas e não pela obrigação do parentesco. Os casais existiriam até o fim das paixões e depois, juntos ou não,  seriam ‘gente’,amigos para sempre em louvor do amor que os uniu. As crianças – oh! sonho meu!! – seriam concebidas como filhos desejados, frutos do amor de um pai e de uma mãe, seriam amadas e cuidadas em seus berços e brincariam frente às casas sob o olhar calmo dos avós. Todas iriam à escola para aprender a realizar seu potencial e seus mestres seriam pessoas de boa vontade que os amariam só por serem crianças.  

O filho se calaria frente ao conselho do pai porque nele confiaria cegamente. O pai sempre teria tempo e cuidado para apoiar o crescimento do filho como quem usa uma guia que sustenta o talo da planta. O jovem veria no velho o seu futuro digno e sábio e, com deferência cederia seu lugar nos ônibus e o ampararia nos obstáculos. Os velhos se encarregariam de cuidar da alma das crianças mostrando e contando sobre as maravilhas do mundo.

 O trabalho seria uma condição humana.  Os contratos seriam honrados muito mais pelas palavras empenhadas que pelos carimbos e penalidades. Os salários seriam justos, não ditados pelos direitos adquiridos, mas pela competência, pelo esforço e capacidade de cada trabalhador. Os ricos nem tanto teriam e os pobres, da miséria nem saberiam. 

Os jovens poderiam ser autênticos, teriam liberdade de treinar os passos e experimentar os caminhos da responsabilidade e das solicitações da vida adulta, confiantes nas oportunidades não teriam medo de crescer e fracassar _ ao invés de gangs se conheceriam em tribos do bem e se divertiriam em clubes da esquina.  Os adultos seriam mais que pessoas crescidas, teriam se formado solidamente e poderiam, sem tanto esforço e competição, responder pela estrutura social. 

Os carros seriam meios de transporte para o trabalho, para a escola, para o lazer e não símbolos de poder e status.  E circulariam cheios de gente pelas ruas, cada motorista levaria seus parentes, seus vizinhos, sem se importar com quilômetros ou minutos a mais de seu tempo. Assim seria muito mais limpo o ar da minha cidade. 

O tempo seria mais usado em conversas frente a frente que virtuais ou via celulares.  As casas seriam lares onde o importante seriam as pessoas e não a tecnologia, a mídia ou os tapetes.  Todos os dias as cozinhas seriam perfumadas de canela, alho, cebola e ervas. Os alimentos seriam frescos, as digestões suaves e muito menos lixo haveria que tirar. A televisão informaria e divertiria – no meu sonho de paz não haveria crimes, favelas, drogas e violência a noticiar.

 Desde pequenos aprenderíamos a vivenciar o vazio do “não – ser” como uma qualidade da alma humana com seus matizes de cinzas de melancolias, tristezas, medos e frustrações e não haveria a necessidade de turvar a mente com substâncias alienantes – lícitas ou proibidas - em busca de distanciamentos ou arrebatamentos: o fluxo da criatividade seria o deslumbramento maior. 

A arte seria mais importante que o sucesso porque dela vem uma alegria mais profunda. A liberdade seria uma condição e não uma musa sedutora. A diversão seria plena, dos sentidos, da razão e do espírito e por isso seria digna e nunca ofensiva. Haveria tolerância, nenhum preconceito, disponibilidade, acolhimento e compaixão. Quando um não entendesse a razão do outro se colocaria em seu lugar – aprender empatia seria matéria obrigatória. Todas as raças, culturas e costumes seriam estudados e conhecidos pelas crianças que aprenderiam sobre a beleza e a importância da diversidade. A natureza não estaria lá fora, mas dentro do coração e nem gente nem bicho viveria atrás de grades sem ter cometido crime algum..................

Assim é meu sonho de paz. Mas, se ainda não posso ter este mundo sonhado, pelo menos posso fazer um pouquinho a cada dia, passos cuidadosos no caminho de minha paz interior. Rever conceitos e perceber se sementes de preconceitos possam estar brotando. Praticar atentamente a empatia, olhar fundo nos olhos de meu próximo, evitar a palavra amarga, treinar a paciência, cultivar a compaixão.
Escolher as minhas compras, não me deixar levar levianamente ao consumismo patético de coisas que não preciso coisas que viram lixo, que não têm sentido... Refletir sobre o poder da embalagem e dominar as ânsias para ter o falso belo.
Exercer meus direitos de cidadania, mas também abraçar minhas responsabilidades de cidadã. Fazer conhecer minhas idéias de melhoria no meu prédio, na minha rua, no meu bairro, na minha cidade e por que não, no meu país? Se puder escolher o carro que uso, que critérios sigo? Luxo, beleza, potência, ecologia? Saber das minhas intenções e arcar com as conseqüências das minhas decisões. 

O que alimenta minha alma me faz confiar ou desconfiar das pessoas? Cultivo com afinco, medos, frustrações, saudosismos, indiferença, ironias, egoísmo? Como mudar este cardápio? A quem tenho como modelo de pessoa desconhecida? O corrupto, o bandido, o mentiroso, o violento, o ladrão, o cínico? A violência gratuita e sem nexo?   Aceito trocar estes padrões que vendem notícia para acreditar no jovem talentoso, na mulher caridosa, no médico humanitário, no engenheiro consciente, no pai amoroso, na mãe atenciosa, no gari cuidadoso, no carteiro alegre, no funcionário solícito, no político honesto (eu sei que é raro, mas ele existe), na vizinha prestativa, nos milhares de motoristas responsáveis, no cidadão voluntário, no rico benfeitor, no pobre trabalhador, no professor digno, no homem comum e de bem? 
É claro que tenho que trancar a porta e gradear a janela, guardar a bolsa e estar atenta – assim exige o tempo em que vivo, mas se eu abrir a minha alma para a liberdade posso escolher olhar longe através das grades, posso confiar no dia de hoje, posso optar por não dar tanta importância ao poder do mal (e com isso alimentá-lo e fortalecê-lo) e acreditar mais e mais na força do bem. Conduzir minha energia para construir a paz ao meu redor, meditar para limpar da mente o que me dá medo, rir e cantar para alegrar meu coração. Ajudar sempre, calar às vezes, contribuir com o que puder. Viver e deixar viver – e, se paz é meu sonho, quero fazer destes os caminhos da paz da minha alma!
Ah! E sempre ter a oração como refúgio:
 orar costuma fazer bem
o coração de quem se entrega à oração
tem mil histórias prá contar”
Namastê
Ana


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Noite de Natal


















Noite de Natal

Ajoelho-me frente ao presépio como já fiz em tantos Natais que perdi a conta. Sou cristã e esta cena tão singela é minha memória mais antiga de religião. Na minha infância Papai Noel era apenas uma expectativa, mas o Menino Jesus, Maria, José, o Anjo, a estrela, eram uma certeza, uma confiança que entrou em minha alma de criança com um poder que muito depois descobri ser fé.  Mais que uma tradição, em todo início de dezembro, desembrulhar as peças do papel de seda, construir o cenário na sala de visitas, reconhecer o Advento e aguardar a Santa Noite, e, depois do dia de Reis, desmanchar todo o encanto festivo, me fez, em criança, aprender sobre os ciclos, sobre tempo, sobre renovação e sobre esperança. 

Na minha lógica infantil, se O matavam na Sexta feira Santa e Ele ressuscitava na Páscoa, eu podia confiar que no Natal Ele renasceria nos presépios das casas e igrejas da minha cidade – isto era tudo que então me importava: eu sabia que desde sempre Ele era um menino e assim para sempre continuaria a ser. Um Menino que conhecia o mundo da terra e o mundo do céu; alguém muito mais perto de mim que o incompreensível Deus criador do céu e da terra que me faziam temer.  Acostumei-me a pedir-lhe conforto nas inquietações, força nos obstáculos, coragem para meus desafios, proteção para os medos que me atacavam.  O Menino, sua Mãe e seu Pai, fizeram parte do meu inconsciente e embasearam a minha consciência religiosa.  

Pela vida e pelos natais fui e voltei. Sorri e chorei. Às vezes a festa foi rica e a casa cheia de gente, noutras a mesa foi frugal e a noite solitária. Nestes anos todos montei presépios – às vezes em balbúrdia, ajudada por mãozinhas desastradas e olhinhos brilhantes das crianças que vieram, e também em silêncios dolorosos quando ao meu lado estavam as mãos trêmulas e olhos embaçados e úmidos dos velhos que se foram.  
 
De todos os presépios guardo respeito e veneração. E frente a este, neste momento, rodeada pelas pessoas amigas e amadas, ouso fazer uma prece, um pedido de Natal a este eterno Menino Jesus:

Eu quero um coração sereno e forte – porque há quem precise de apoio e conforto;
Eu quero um coração meigo e suave – que me faça acalentar crianças, bichos e pessoas;
Eu quero um coração corajoso – que me leve a enfrentar o que me cabe viver;
Eu quero um coração com mais fé que razão – porque há coisas que nunca compreenderei;
Eu quero um coração amoroso – para aceitar as coisas que não compreendo;
Eu quero um coração luminoso – porque as trevas nos rondam;
Eu quero um coração pacífico – que me afaste das pessoas violentas;
Eu quero um coração compassivo – que seja antídoto para minha intolerância;
Eu quero um coração humilde – porque há tanto que aprender a cada novo dia;
Eu quero um coração inquieto – para que eu não me acomode e possa mudar sempre;
Eu quero um coração alegre – porque às vezes a vida me faz muito triste;
Eu quero um coração grande e feliz – para abraçar todo mundo e assim poder dizer:   
FELIZ NATAL!
(Ana Lara – dez 2010)
Namastê

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Boa pergunta Papai Noel

Boa pergunta Papai Noel

Afinal o que é NATAL?
Será que dá para separar dentro da gente o 'cristão' do 'consumidor' ?
Vamos por partes para explicar a equação: a data que celebra o nascimento de Cristo foi determinada pela Igreja Romana uns quinhentos anos depois do nascimento de Jesus. Nas festas cristãs a celebração do nascimento do redentor por certo teve tantas versões quanto os povos que celebravam. 

No século III  viveu na Grécia Nicolau um homem caridoso que distribuia anonimamente a fortuna herdada com os pobres de sua terra. A Igreja usou seu exemplo por séculos, colocando-o na figura de um bispo (por isso a roupa vermelha), determinado 6 de dezembro como dia de caridade (por ser seu aniversário). No século XVII o mito de Santa Claus foi levado aos Estados Unidos - lá a figura do 'bispo católico' virou um 'velhinho bonachão'. O gesto da caridade dos presentes foi associada pela Igreja com a figura do cristo que representa doação.

Em 1931 uma agência americana de publicidade criou a forma em que hoje vemos a figura, baseado num antigo vendedor para uma propaganda da Coca Cola. Assim o Santa Claus deles veio para nós (colônia comercial americana) como nosso Papai Noel. 

Os festivais que comemoramos, as datas que celebramos, as festas que fazemos, têm sempre um visual relativo aos recursos que empregamos - quero dizer: a festa sempre tem a cara de quanto investimos nela. E tudo ia bem por aí até certo tempo atrás*. Quem é mais velho conheceu Natais sem as quinquilharias vermelhas e verdes importadas da China ou seja lá de onde for - é verdade. Quem é jovem pode nem acreditar, mas a gente vivia (e muito bem!!) sem milhões de tralhinhas cotidianas "essenciais".
O tempo atrás* se refere às décadas de 80'/90' onde redes mundiais de comércio descobriram uma nova mina de ouro com filões espalhados pelos quatro cantos do mundo. Foi tudo muito bem arranjado. Primeiro formar comunicadores para vender as idéias, designers para criar as embalagens dos sonhos, contratar criadores de mitos, reunir empresários para bancar os produtos, construir fábricas. Tenho cá para mim que a idéia original partiu de um novo arquétipo social - o Banqueiro. Porque, sem dúvida, nada neste mundo cresceu mais nos últimos anos que os BANCOS (com exceção de algumas igrejas que são bancos travestidos em seitas).
Criada a base - que atende pelo nome de Mídia - fomos invadidos por todos os poros. Finalmente alguém nos garantia o direito do "céu na terra". Não precisamos esperar pelo outro Reino, basta comprar que a felicidade vem junto. Quanto mais caro o presente - tipo assim um carrão, uma super casa, um bolsa de milhares, mais eternos eles garantem os benefícios das beneses.
Para pegar fundo, lá na alma da criança, seja aquela que ainda mora dentro da gente ou a que mora com a gente , alí ao lado, com seus olhinhos brilhantes grudados na tela da TV, botaram o Bom Velhinho de garoto propaganda, sem sequer tirar dele as barbas e a roupa de inverno. E quem consegue se livrar dele quando "presentear" se tornou uma obrigação? Quem não pode dar é quase pecador, sofre culpas e acusações?  Álguém me contou que uma família americana de classe média, gasta mais ou menos umas cinco ou seis horas no dia de Natal só abrindo pacotes!!
Pois é Menino Jesus, parece que a competição desleal tirou seu santo espaço nestes tempos que vivemos. Não que isso importe tanto - há muita loucura no ar, são tempos de guerra suja, de vampiros gananciosos que se alimentam dos sonhos e desejos dos pequenos egos humanos - a gente sabe que isso passa não importa o tempo ou o quanto vai custar em risco social.

O dourado do Seu reino não é feito de purpurina, mas da Luz verdadeira. Os pastores, os animais e os reis magos ao Seu redor na cena da natividade, representam a serenidade, a simplicidade, a sabedoria - presentes que não se compram em lojas. São dons que se aprende a cultivar no seio da família, jóias que se guardam na alma e não em cofres. 
O reinado do Papai Noel porém é transitório, sazonal. No dia seguinte ele já está 'fora de moda' quando o branco e o prata do reveillon tomarem conta das vitrines. E, então, sobra pouco ou quase nada: brinquedos  já quebrados, o carrão (que afinal leva dentro o mesmo eu derrotado), a TVzona que mostra as mesmas idiotoces....
Quem sabe a gente - que é inteligente - pode juntar os dois numa festa só?? Primeiro decide-se quem é o dono da festa e quem é o ajudante. Lugar de honra na casa e no coração para o Menino - monta-se o cenário com a simplicidade de seu tema e suas cores. Fala-se dele às crianças e entre os adultos mostra-se o rspeito e submissão. Depois arranja-se o
vermelho e o verde, o branco e o dourado, o brilho, as luzes pois, afinal é tempo de festa.

Então a gente se lembra do Velho Nicolau e de sua intençao primeira: que no pacote de cada um esteja um presente verdadeiro que seja símbolo do amor, do carinho, do apreço de uns pelos outros. Que presentes também sejam gestos, abraços, palavras que dinheiro algum compra. 
Assim o Natal vai durar muito mais, este espírito vai entrar pelo Ano Novo e nos acompanhar nas férias, no verão ou no inverno, como uma felicidade que enche a alma. 
Ainda temos tempo de preparar um Natal mais verdaeiro - vamos agir!

Namastê 
Ana   

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A arte de receber amigos


Como há um tempo para tudo, de repente chega a hora de uma comemoração e decidimos que queremos os amigos em casa, fazendo festa. Marca -se o dia, avisamos todo mundo e começam os preparativos _ são amigas e amigos tão queridos que tudo tem que ser muito bem feito porque eles merecem o melhor possível.

Primeiro vem o planejamento, a hora do sonho e das melhores intenções: aquela receita nova e maravilhosa que vimos na TV ou degustamos por aí e, segundo conta a lenda é 'facílima e não tem como errar'; a mesa maravilhosa, toalhas de linho engomadas, guardanapos dobrados como obras primas do origami; um texto - superlativo - que demonstre do fundo do coração o apreço que temos pelos nossos convidados; as bebidas quentinhas se o tempo esfriar e adequadamente resfriadas se o calor for de abafar; a casa cheirosa e arrumada como em revista de decoração!  

Assim a festa vai se constelando e fazendo parte do dia a dia, que insiste em não deixar tempo de sobra para que nos ocupemos só dos preparativos e... eis que chega a hora de fazer a festa. 
Dias antes, en passant, damos uma passada de olhos pela casa e dá vontade de mudar: de casa (direto para aquela página da revista que a gente guarda como a casa perfeita dos meus sonhos), de diarista (e ter aquela organizadora do programa da TV americana, de graça e todo dia arrumando as coisas por aqui) ou pelo menos de hábitos e traçamos o firme propósito de não deixar acumular sequer um simples papelzinho ao lado do telefone ou uma poeirinha na prateleira. Mas agora, só resta um esforço concentrado prá manter a auto estima, porque afinal: "su casa, su cara" e, lá vamos nós na faxina!

Depois, às compras: confeitarias (onde é mesmo que colocamos o telefone de quem prepara "o quê mesmo que alguém - quem ?- recomendou, que era uma delícia?"); supermercado, açougue, frutaria; papelaria... anota tudo, sai correndo e deixa as anotações em cima da mesa da cozinha, esquece o que era essencial e compra o que não vai usar.

Véspera, dia 'D' (decisivo) forno e fogão: na metade do assado (depois de perceber que a encomenda veio trocada, o que era para ser 'lombo', virou 'pernil com osso', mas pelo menos o peso coincide) o gás acaba.... tudo bem, nada de estresse! A tal receita facílima não dá as dicas certas e a coisa fica assim 'meio coisa', ainda que o gosto seja bom. A pia da cozinha vira uma pirâmide e o que a gente mais precisa está sempre por baixo - o que leva a lavar tudo de quinze em quinze minutos. Mas não faz mal, afinal queremos dar o nosso melhor às pessoas querida.  
A geladeira transforma-se num mistério digno de Sherlock Holmes: o espaço interno que há pouco era enorme, some; as prateleiras encolhem, o freezer vira uma caixinha de gelo e você, descaradamente, apela: _"Meu Deus, onde vou colocar as coisas prá gelar?" Tira daqui para lá, reloca, joga fora, ao final dá-se um jeito. 

E chega o dia da festa. A faina começa cedo: as toalhas, mesmo passadas e repassadas a ferro perdem o encanto; as dobraduras dos guardanapos (um mes antes pesquisadas por horas na Internet) foram esquecidas e alí estão eles, plácidos em sua embalagem fechadinha ("ih! esqueci!!"); as mesas alongadas e desdobtradas, teimam em não ter elegância nenhuma quando as cadeiras (próprias e emprestadas) são a elas anexadas _ nada combina, nem em tamanho quanto menos em estilo. Pelo menos a louça e os talheres se parecem (fomos espertas, minha irmã e eu quando compramos jogos de louça semelhantes!!). Apesar de tudo, a casa está 'um brinco' e a sala acolhedora ("é o que temos por hoje, senhoras!"). Na cozinha louvamos todos os confeiteiros do  mundo que ganham seu santo sustento fazendo e vendendo suas delícias (e, maravilha das maravilhas, entregam os quitutes em casa na hora combinada) e só nos resta desculparmos pela cara daquele docinho feito em casa 'com a melhor daas intenções'. 
 
E então, acontece o milagre - as amigas chegam, cheias de abraços, sorrisos, flores, presentes, carinhos, alegria! Cheias de "que lindo!"; "que maravilha!"; "que gostoso!"; "quanto tempo!"; "que saudades!"; "como é bom estar aqui!"  _ a festa se faz, uma corrente luminosa se cria e abençoa cada um num abraço comum e caloroso. Estamos juntos e felizes, somos amigos!

E tudo faz sentido, e tudo vale a pena _ se eu precisar começar outra festa amanhã mesmo, farei tudo do mesmo jeito. Podem contar comigo, sempre!
Obrigada minhas amigas e amigos por virem à minha festa!

Namastê

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A serenidade dos anos que passam


A época do aniversário é marcada por muitos abraços, mensagens de carinho, sorrisos, visitas _ feliz daquele que tem amigos para compartilhar e celebrar os momentos da vida. Fazer dezoito é a glória completa, mas e sessenta?! Bom, aí depende.

Eu, graças a Deus,cheguei aqui muito bem, obrigada. Se comparar com uns (e as pessoas têm mania de comparar) meu caminho foi muito fácil; se comparar com outros, foi bem difícil. Vivo igual aos meus iguais. Se pudesse viver novamente – como pensou o poeta – faria algumas coisas do mesmo jeito, outras absolutamente diferentes: talvez, quem sabe, pensasse menos e corresse mais pelos campos e pelas praias? O que eu sei agora é que não poderia, nunca, trair a minha essência – e quantas vezes teimei assim em fazer em meus anos de juventude!
 
O tempo é um rio por onde seguem as correntes da vida. E nele navegamos ao sabor dos acontecimentos.  O imprevisível nos espreita a cada curva e, por mais que tentemos, não temos como nos preparar para antever o que virá porque toda nossa capacidade está enredada na realidade e ela está acontecendo simultânea, quer dizer, agora e só neste momento. Se eu me descuido do ‘aqui’ para pensar no ‘logo ali’, inevitavelmente, perco o momento. Ah! Quantos neurônios eu queimei desnecessariamente _ aos vinte, aos trinta, aos quarenta _ querendo estar lá no futuro para garantir segurança. 

Quem navega sabe que não pode ter um pé em cada barco _ são os dois no mesmo barco e gingando o corpo para não perder o equilíbrio. Um valioso segredo é aprender que "não sou eu que me navego, quem me navega é o mar"!

Fazer sessenta anos é se aproximar da velhice – no senso comum, ou seja, na moda atual, esta é uma questão tabu, tanto assim que se criaram novos termos para caracterizar esta fase: ‘terceira idade’, ‘melhor idade’, ‘idade de ouro’, ‘envelhescência’, e por ai. Bom para garantir alguns direitos duramente conquistados (afinal trabalhamos muito tempo e já pagamos muito impostos por eles). Ruim, quando a mesma moda quer nos fazer acreditar que estamos à margem ‘do mundo’ se não consumirmos o que a sociedade determina impondo um ‘modus vivendi’ que, muitas vezes, fere a dignidade das pessoas que engordaram, que têm nos pés e nos joelhos o peso dos anos, nas faces as marcas do que viveram. Com o passar dos anos a gente entende porque beleza, verdadeira, é interior. A pele seca, mas a alma pode ser sempre fresca.  

É inerente ao ser humano a capacidade de paz interior e sabedoria – é o que o bebê expressa quando se aconchega no colo amoroso e repousa (ele “sabe”, portanto, confia). Não perdemos esta capacidade, apenas nos esquecemos depraticá-la. E é o esquecer desta graça que traz tristeza ao envelhecer.  
Todos os acontecimentos e experiências são como atribuições e testes pelos quais vamos aprendendo o que é a vida. 
O envelhecimento é o cadinho onde vamos refinar o desenrolar dos eventos da vida como significativos para um propósito maior. É agora que conseguimos entender o ‘quê’, ‘o como’ e o ‘porque’ das coisas vividas. E desta compreensão vem a sabedoria _ com ela cessam os discursos, por isso os velhos se calam; com ela diminui a procura, por isso eles não precisam ir tão longe; os conceitos, idéias e opiniões já pouco valem quando se aprendeu  que o que  realmente importa é o amor e o afeto: por isso os velhos não brigam. Um velho livro, bem  cuidado e preservado é um tesouro porque guarda a sabedoria de outros tempos. 

É por isso que eu peço: Senhor, conceda-me a graça de envelhecer tornando mais puro o que me vier às mãos!
Namastê

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bom dia Serenidade

Bom Dia Serenidade

Começo hoje a postar em novo blog.

O título, ainda que sem nenhuma pretensão literária, evoca “Bonjour Tristesse” primeiro e famoso livro de Françoise Sagan, escrito aos 18 anos e lançado na França em 1954. Em Bonjour... Françoise conta as experiências de Cecile uma adolescente de 17 anos, em férias de verão com seu pai viúvo e suas ‘amigas’. Cecile jovem, Cecile aprendendo o mundo europeu de pós guerra... Cecile começa sua vida adulta. Cecile, inevitavelmente, vai sofrer de ‘tristesse’ para aprender a viver.

Mas meu blog, de tristesse quer ser antítese _ por isso serenidade, porque eu já vivi muito além dos meus 17!

Para iniciar escolho este mês, outubro, porque nele passo pelo portal e viro sessentona, com orgulho e dignidade.

Convenciona-se que um blog tenha o perfil do responsável. Então:

Fisicamente eu diria que o nariz é grande demais para meu gosto, as costas se curvaram um pouco à medida que coloquei nos ombros pesos que não consegui suportar. A face tem sulcos _ profundos _ que ficaram das memórias dos abismos que transpus. O corpo guarda cicatrizes de ferimentos de batalhas que venci; a cintura se avolumou mesclando-se às ilhargas; o fôlego é mais curto nas caminhadas (mas nunca o tive muito forte mesmo) e, sinceramente, não há um único dia em que pelo menos alguma coisinha não doa. Minha visão é curta e turva, reclamo de minhas lentes, mas como diria o sábio:”reclamei das velhas lentes e ao meu lado estava um cego”

A mente é irrequieta como aos 20 e poucos anos. Às vezes sinto ter dentro da cabeça um parque de diversões onde os pensamentos se desgovernam em imensos tobogãs de água, mas já não bato portas nem me empenho em mudar ninguém _ é claro que quero muitas coisas e com as coisas que quero e não tenho vem junto a ansiedade que não raro me tira o sono... mas a gente vai levando!

Hoje aceito a vida como ela é (ou pelo menos vivo tentando viver assim). Porque tenho a alma confiante, sou filha de Deus, irmã do mundo, cidadã do universo. E é nesta fé que repousa a serenidade que pretendo compartilhar. Aviso que não tenho igreja, mas sei reconhecer um altar quando o sinto _ uma flor, uma árvore, uma criança, um sorriso, um abraço, uma palavra, uma pessoa, um gesto, um dia de chuva, um céu azul, o mar, uma montanha, um bom bocado, um gole de água pura, o pão ou o vinho _ e nele me curvo e faço minhas preces.

Conheço a tristesse porque muito vivi e aprendi que o cinza tem inúmeras tonalidades, mas descobri que a paleta da alma é mágica e azuis turquesa, verdes berilo, rosas chá e amarelos citrino têm o poder de transformar o cinza em brilho de prata.

Há muito tempo viajo pelo interior dos meus reinos, conheço as geografias e os dialetos. Sei onde mora o sonho e a coragem. Sei onde a paciência tece seu inacabável manto, onde a compaixão recolhe as dores alheias, onde o preconceito se esconde, onde a fofoca tagarela suas pequenas maledicências, onde a preguiça empurra o lixo para o quintal do vizinho. Sei onde o carinho toca uma mão, onde o amor põe no berço uma criança. Sei um pouco das coisas simples e fundamentais da vida

É do conhecimento destas coisas que quero falar o que sinto _ não são “verdades da vida”, mas são as minhas aprendizagens, os relatos das minhas viagens pela alma, pelos caminhos que aprendi serem bonitos porque contém o divino, o intocável de cada um de meus semelhantes.

Namastê minha irmã, meu irmão.

Com amor, Ana